"E então, ela me pergunta isso como quem pergunta as horas: - Você já o esqueceu? E eu respondo que prefiro não responder. Não porque não tenha o que dizer. Mas porque tudo o que eu disser parecerá pouco. E entre não me entenderem e eu nada falar, prefiro a segunda opção. Como dizer que a vida é infinitamente melhor sem ele? Quase nem eu acredito. Que sou mais livre para correr atrás dos meus desejos, que eu consigo ser mais eu, mais leve, mais linda, mais livre? Como explicar que eu só queria o mundo o qual ele me ocultava, por medo de me perder para um sonho qualquer? Meu sonho era ele e era o mundo. Ele para amar e ser fiel, o mundo para eu percorrer. Ele era meu dono e nunca teve certeza disso. Ganha o coração quem ganha o amor. Perde o coração quem tenta o aprisionar. - Você já o esqueceu? Não, droga! Não sei como finjo tão bem. Tem horas que nem lembro. Tem horas que nem sangra. Acostuma-se com a dor. Com a ausência. Colocam-se outras coisas no lugar. Não amores: aspirações, distrações. Meu amor é egoísta. Não sabe dividir. Quer a verdade completa de uma sinceridade nua. Quer a totalidade de atenções, não admite perder para outro vício qualquer. Mas passou. Porque quero, porque preciso. Porque prefiro mil vezes sofrer sozinha a sofrer acompanhada."
Renata Bezerra